O Oposto de Tudo
Sombras Secas é a segunda pele de cidades, seus transeuntes, suas coisas, seus objetos voadores, suas transparências, seus resquícios de humanidades, a iminência do pensamento, a fuligem escorrendo pelo vidro, a dúvida do fotógrafo entre o que ele verdadeiramente enxerga, o que ele é, o que tenta descobrir para finalmente ter consciência de si mesmo. É um teatro de representações interior. Nada poderá ser explicado, apenas visto. Nenhuma fotografia permite interpretações. Ainda mais aqui, nessas sombras secas onde as imagens de Marcelo Greco fazem parte de um laboratório onde algumas vezes temos a impressão que o silêncio (a vida e a morte) de cada uma delas está sendo desafiado.
Um mundo escurecido e inebriante e, por isso mesmo, o que nos provoca é chegar ao fundo do processo escondido em cada uma dessas fotografias. Elas existem porque quase “se escondem”. O fotógrafo é o oposto: se entrega para que a imagem não lhe arranque a pele. Como na despedida de uma grande paixão. Quem fica? Quem vai embora? Duas vezes a mesma coisa, sombras reproduzem o outro mesmo homem que muitas vezes não percebe que está sendo seguido diante do tempo que se esvai. Então o jogo está sobre a mesa. O tiro disparado. Não existem metáforas à janela do amanhã.
Nada de véus. Nada de máscaras. O sujeito tentando descobrir o caminho na cidade adormecida: um local interior onde tudo se torna urgente. Estamos em coma. Nenhuma cidade aqui será jamais revelada. Tudo não passa de uma questão de segundos. Esqueçamos a representação. Estamos no grande teatro com suas feridas de ferro. O fotógrafo é o oposto: se entrega para que a imagem não lhe arranque a pele. Novamente como numa grande paixão. Do outro lado da cortina, estilhaços na vidraça. Quem de nós encostará o rosto no espelho? No espaço vazio entre humanidades, o homem e a cidade interrompem a escuridão que jamais será revelada. O fotógrafo é o oposto.
Diógenes Moura